Relações de qualquer natureza exigem companheirismo , respeito, transparência e acima de tudo cumplicidade. Uma relação médico-paciente não é diferente!
Para existir um casamento ou união estável foi necessário que duas pessoas se atraíssem, buscassem afinidades, passassem a se entender e compreender seus limites e possibilidades. Com o tempo a sedimentação deste convívio gera uma sociedade pautada na confiança e na credibilidade que ao aumentar fica cada vez mais forte E consistente. Para isto, ambos precisam ser fiéis as suas diretrizes. Ao precisar de algum cuidado médico o paciente inicia uma busca por um profissional de excelência com habilidades e experiência o bastante para lhe cuidar a vida. Isto ocorre por indicação de amigos, familiares ou conhecidos que dividem boas ou más experiências criando uma expectativa sobre determinado profissional. Além disso, e não menos importante, nos dias de hoje, há a condição econômica de cada um que pode, por sua vez, funcionar como um filtro para pré-determinar seu médico através de uma rápida olhada em uma nominata do convênio e causar simpatia por um nome qualquer , entre tantos ali expostos. Isto pode gerar um início de relação inconsistente, semelhante com namoros de ocasião que em determinado momento, passado o efeito da bebida, a pessoa se pergunta o que está fazendo com aquela pessoa?!?
Escolhido o especialista para conduzir sua saúde, e isto é uma responsabilidade e tanto, inicia-se um processo de cumplicidade, um matrimônio, onde o paciente passa a se despir literalmente de corpo e alma expondo muito mais que suas manchas de nascença, zonas de pudor ou vergonha, explicita as cicatrizes da alma. Ao menos deveria ser assim! Munido destas informações a experiência e conhecimento do médico, então, entram em ação para construir equações mentais que o ajudem a decifrar os problemas trazidos pela paciente.
Ninguém possui resposta para tudo, daí a importância da transparência e respeito entre o binômio. O médico precisa ser claro ao fazer seu diagnóstico e verdadeiro ao informar boas ou más notícias. Precisa, ainda, despir-se de qualquer ego e ser franco ao informar que pode necessitar de mais exames e tempo de estudo ou, quem sabe, de ajuda ainda mais específica para ajudar seu paciente a concluir seu diagnóstico. Isto não deve ser interpretado como fraqueza, pelo contrário, mostra maturidade e compromisso com o paciente. Atitude louvável!
Quando as regras de uma relação são devidamente expostas e seguidas a risca por ambas as partes, torna-se compreensível a resolução de complicações inesperadas e inerentes ao tratamento. O profissional deve estar de mãos atadas com o paciente e sua família até a resolução do problema.
Hoje em dia vemos muitos relacionamentos amorosos fugazes. A falta de consistência e comunicação gera conflitos desnecessários e que causam a erosão de sua sociedade. A relação médico-paciente também vem sendo enfraquecida ao longo do tempo. Por condições econômicas, avanços tecnológicos, desrespeito mútuo, absoluta falta de valorização profissional, más gestões administrativas, seja pública ou privada, e um desmoronamento dos pilares sociais. A relação médico-paciente exige um diálogo franco, em uma linguagem clara para o paciente e sua família. Quando um médico é escolhido por qualquer razão, ele precisa entender que não está tratando um ouvido, um intestino, uma mama, um osso, etc. Ao assumir um caso, assume-se um compromisso de respeito e cumplicidade com o indivíduo e sua família.
O médico e as Instituições de saúde não devem se gabar de prestarem um tratamento dito humanizado, ele deve estar intrínseco na sua atitude profissional. A relação médico-paciente deve, sim, ser personalizada, resgatada e preservada acima de tudo e para uma boa saúde de todos ou até que a morte os separem!