O conceito de mastectomias poupadoras de pele consagrou-se nas últimas décadas. Com a evolução da forma e qualidade dos implantes mamários, associados à constatação da segurança oncológica, um número crescente de reconstruções mamárias com implantes pós-mastectomias tem sido indicados.
Supostamente estes procedimentos teriam menor morbidade associados a um resultado estético adequado, ao menos, para um primeiro momento. Sabidamente a qualidade de uma reconstrução mamária com implante está diretamente relacionado com uma mastectomia bem realizada.
Além de um retalho dermo-gorduroso bem perfundido e regular é importante a definição de uma loja protésica adequada e que respeite os limites mamários. Podem ser confeccionadas lojas retro-musculares totais (implante totalmente coberto por músculo peitoral maior e serrátil), loja parcial (implante coberto apenas pelo músculo peitoral maior) e mais recentemente estudos mostram benefícios com lojas subcutâneas.
Paralelamente o desenvolvimento de malhas biológicas ou sintéticas permitem a discussão sobre qual método seria mais eficiente. Ainda existe uma escassez de informações que melhor definam seu uso. Supostamente foram desenvolvidas com o intuito de permitir uma maior segurança na reconstrução com implantes, podendo ser usadas na cobertura de toda a prótese ou como uma banda, parcialmente. Desta forma objetiva-se um melhor resultado estético, sem maiores comorbidades, beneficiando a qualidade de vida das pacientes. Contudo, o custo benefício mostrou-se duvidoso, além de altas taxas de complicações, principalmente associadas a seromas frequentes, persistindo dúvidas sobre suas indicações e benefícios.
Na tentativa de esclarecer estas questões pertinentes os autores fizeram uma pesquisa na Pubmed, na Cochrane Library, no banco de dados do clinicaltrials.gov. Constataram uma completa ausência de evidências de alta qualidade comparando dados clínicos entre uso ou não de telas na reconstrução mamária imediata (RMI). Um estudo controle randomizado com 142 pacientes mostrou alta taxa de complicações , incluindo perda protésica e re-operação após 1 ano para pacientes submetidas a reconstrução mamária com tela, comparada com a reconstrução clássica, sem tela.
Outros estudos menores mostraram dados negativos em relação ao uso das telas biológicas, sugerindo maiores taxas de perda protésica, infecções, além de complicações pós-operatórias mais frequentes como dor, fadiga e impacto na qualidade de vida familiar, quando comparado com telas sintéticas. Não foram encontrados resultados de estudos comparando reconstruções com tela em lojas submusculares e subcutâneas.
Conclui-se que os protocolos atuais são baseados em baixa qualidade de evidência. Recomenda-se o uso de telas para casos selecionados, especialmente para grupos considerados de maior risco como pacientes previamente submetidas à radioterapia ou com elevado IMC. Porém, mais estudos precisam ser conduzidos para melhor esclarecimento e eficácia destes produtos, para que novas e consistentes informações surjam e suportem seu uso na prática.
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